Sentimento .

Hoje enquanto olhava para o teto estive divagando sobre tolices para ver se não chegava a nenhuma conclusão como sempre.

Pensei sobre sentimentos. Parte animalesca do homem que o tira do seu pedestal de ser racional. Porque o sentimento pouco tem a ver com a frieza da lógica. Pouco tem a ver com a condição suprema do homem perante o mundo.


Simplesmente sentimos. Simplesmente odiamos. Simplesmente sentimos rancor. Raiva. Paixão. Alegria. Amor.


Por isso as pessoas costumam não ter controle sobre suas paixões. Nunca conseguem estancar determinados rancores de seus corações. E sentem um vazio que as fazem sentir necessidade de pertencer a algo que nunca se sabe muito bem o que é ao certo.

O engraçado é que mesmo assim os homens tentam racionalizar os sentimentos. Catalogar, denominar, classificar qualquer coisa parece ser inerente à característica presunção do homem.

O poeta que canta o amor ideal jamais se permitiu entregar aos caprichos e desafios inerentes a ele. Enclausurado em seu apartamento, só vive os romances empoeirados em sua estante.

O psicólogo que tenta controlar determinados sentimentos alheios, não sabe o que ele próprio sente. E a cada dia está mais confuso em relação a isso.

O filósofo que procurou toda a vida a verdade absoluta das coisas, se sente desolado ao constatar que todos os sentimentos que acreditava verdadeiros, hoje sequer seriam dignos de receber uma etiqueta “Made in Taiwan”. Seu “melhor” amigo se revelou um interesseiro. Sua esposa... Bem... Ela o traía há vinte anos com o “interesseiro”.

Enfim, se existe uma caixa onde estão arquivadas tudo aquilo que é absoluto (impassível de ser questionado), certamente não vejo nenhuma ficha designada “Sentimentos” ali arquivada.

O problema certamente não é descrever sentimentos, obviamente. Mas sim o ledo engano de achá-los iguais para todos.

O fato é que a gente mal sabe o que outro sente de fato. Mas temos a necessidade de nos reconhecermos como iguais. De dizer que integramos um mesmo mundo, porém nossos olhos sequer conseguem visualizar nosso interior. O que dirá do universo do outro? Cada um dos universos particulares existentes?

Como dizer então que o que sentimos pode se enquadrar em algo? O modo como são rotulados sentimentos me faz lembrar de um médico qualquer que diagnostica doenças.

--------------------------

Situação:


Médico: - Então, Carlos. Como anda? O que tem sentido?
Carlos: - Bem, doutor... Eu ando sentindo um aperto no peito estranho.
Médico: Sim. Mais alguma coisa?
Carlos: Bem...Insônia... Meu humor também anda variável. Euforia numa hora. Tristeza noutras...
Médico: Você tem idéia do que pode estar causando isso?
Carlos: Hummm... Tem uma garota, sabe? Geralmente quando a vejo que sinto isso...
Médico: Entendo. Já tenho o diagnóstico, creio.
Carlos: Pois, bem. Me diga, Doutor...
Médico: Você está sofrendo de Amor. Doença séria essa. Mas pode ser controlada. Vou lhe receitar uns medicamentos, ok?

Meses depois Carlos descobriu que o que causava aquilo era uma reação alérgica a um perfume que a tal garota usava. A insônia era por tomar muitas bebidas a base de cafeína. A variação no humor era causada por estar num estágio elevado de depressão e tomar remédios que causavam uma sensação de alegria. O aperto no peito era por ser cardíaco.
Hoje Carlos ocupa o apartamento 599 no subsolo do cemitério de sua cidade.
Sua família move um ação judicial contra o médico que o diagnosticou como doente de amor e causou sua mudança eterna para sua nova morada.

------------------------------

Bem...
Um dia a gente aprende que o outro sente um sentimento diferente do que a gente sente. Que o nosso amor é diferente do amor do outro. Que o nosso ódio é diferente do ódio do outro. E que mesmo que tenham nomes iguais, são diferentes para cada ser que se diz humano.




Por hoje é só...
Até a próxima!



Sentimento . by Diego? Glommer? is licensed under a Creative Commons Atribuição-Uso Não-Comercial-Vedada a Criação de Obras Derivadas 2.5 Brasil License.
Based on a work at marmotatomica.blogspot.com.
Permissions beyond the scope of this license may be available at http://marmotatomica.blogspot.com.